Neste artigo você vai conferir: Painel 06 – Avaliação Interna de Riscos: práticas de mercado e procedimentos recomendado Painel 07 – A influência do ESG e da Gestão de Riscos de Terceiros no processo decisório das empresas Painel 08 – Os Criptoativos no financiamento do terrorismo – transações anônimas e ameaças globais Painel 09 – O papel do mercado na prevenção e combate ao crime ambiental e na promoção da responsabilidade social Painel 10 – Inteligência Artificial na prevenção de fraudes, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo Entrevista com Togzhan Kassenova Painel 06 – Avaliação Interna de Riscos: práticas de mercado e procedimentos recomendado Aranza Rodrigues-Wyler, Head de Compliance, Governança e Controles do Banco Santander, Carlos Roberto Alves de Queiroz, Diretor da SUSEP, Fernanda Gagliardi, Gerente de Prevenção à Lavagem de Dinheiro da Stone, Gerson Romantini, Chefe de Divisão da Supervisão de PLD-FTP do Banco Central do Brasil, foram responsáveis por abrir o segundo dia do Congresso. Neste painel, os especialistas discutiram os principais pontos para a implementação de uma Avaliação interna de Risco (AIR) eficiente e alinhada às melhores práticas de mercado. Aranza Rodrigues destacou que uma metodologia robusta e alinhada ao modelo de negócios é essencial para atender às normas e ser assertiva. Ela enfatizou a importância do uso de ferramentas apropriadas, como avaliações nacionais e setoriais de riscos, além do suporte do Grupo de Ação Financeira (GAFI). Carlos Roberto abordou a perspectiva do setor de seguros, que retornou mais de 220 bilhões de reais à sociedade no ano passado. Ele ressaltou que a AIR deve ser multidisciplinar e contar com o apoio de toda a companhia, não apenas dos profissionais de PLD. A SUSEP acrescentou um perfil adicional na avaliação de riscos, focando também nos beneficiários de acumulação, como PGBL e títulos de capitalização. A SUSEP incentiva a criação de um ecossistema tecnológico, destacando a importância da AIR contemplar novas tecnologias e inovações de mercado. Carlos também mencionou que a SUSEP monitora frequentemente a conformidade e pode adotar medidas preventivas para melhorar os estudos de AIR. Gerson Romantini forneceu um histórico da incorporação da AIR nas normas do BACEN, destacando a importância da Avaliação Baseada em Risco (ABR). Ele explicou que a ABR redesenha os procedimentos de PLD com base no risco, tornando-os mais robustos. A Circular 3.978, editada em 2020, exige que as instituições conheçam seus riscos inerentes de LD-FTP. Gerson enfatizou que, para redesenhar os processos de PLD, é fundamental conhecer e documentar esses riscos. A AIR não deve ser vista como uma mera formalidade, mas como uma etapa importante para a implementação da ABR. Por fim, na visão integrada sobre prevenção a fraudes, PLD-FTP e riscos de crédito, Aranza Rodrigues opinou que a integração das fraudes no relatório de AIR é interessante e relevante, seguindo uma tendência internacional. No entanto, ela considerou que o risco de crédito, que está mais associado a perdas financeiras, pode não ser adequado para o relatório de PLD-FTP. A importância da tecnologia na avaliação interna de riscos foi um ponto unânime entre os painelistas. “Ter uma boa base de dados e dados confiáveis é essencial,” destacou Carlos. Gerson complementou, afirmando que a utilização da ciência de dados trouxe um salto de qualidade para o PLD, permitindo uma análise mais precisa e eficaz. “Antes de começar a usar analytics, os dados precisam estar bem estruturados.” Painel 07: A influência do ESG e da Gestão de Riscos de Terceiros no processo decisório das empresas O Painel 07 contou com Ana Clara Machado Correa, Diretoria Jurídica de Corporativo, M&A e Compliance da Raizen, Chantal Castro, Gerente da Plataforma Ação Contra Corrupção do Pacto Global da ONU, e Mário Vinícius Claussen Spinelli, Diretor Executivo e de Conformidade da Petrobras. Os participantes deste painel exploraram como a due diligence de terceiros pode integrar questões sociais, ambientais e de governança (ESG). A discussão foi iniciada por um panorama sobre o aumento da importância das práticas ESG no contexto corporativo atual, destacando como a integração dessas práticas pode mitigar riscos, e também agregar valor às empresas. Mário Vinicius Claussen Spinelli apresentou casos práticos de como a Petrobras tem implementado a Due Diligence com foco em ESG. Ele destacou que a integridade é um dos pilares do plano estratégico da empresa, promovendo a diversidade, inclusão e equidade, além de combater todas as formas de assédio e discriminação. “Temos um procedimento de Due Diligence que classifica fornecedores em três graus de risco – baixo, médio e alto. Empresas classificadas como de alto risco não podem participar de processos de contratação, exceto em casos específicos,” explicou. “Usamos um questionário com 31 perguntas que num primeiro momento tinha um olhar muito focado em fraude e corrupção, mas agora é mais amplo. O objetivo é estimular que os nossos fornecedores tenham políticas, por exemplo, de prevenção e combate a todas as formas de assédio, direitos humanos, trabalho escravo, proteção de dados, entre outros.” Ana Clara enfatizou a importância da rastreabilidade e do monitoramento contínuo em toda a cadeia de fornecedores. “Não podemos mais proteger apenas internamente; é preciso olhar para toda a cadeia. A conformidade e adesão ao nosso programa de integridade são fundamentais, e isso inclui treinamentos contínuos e um canal de denúncias para garantir um alto grau de conformidade entre os parceiros.” Chantal questionou Mário sobre o ponto de virada para a alta liderança da Petrobras entender a importância dos treinamentos para fornecedores. Mário respondeu: “A criação da diretoria de governança e conformidade em 2015/2016 foi um marco. Transformar essa diretoria em parte da diretoria executiva mostrou a dedicação ao tema. O principal ativo das empresas hoje é a reputação, e empresas com compromisso social lucram mais. Foi essencial conscientizar a alta administração sobre isso.” O painel também abordou os desafios enfrentados pelas empresas na implementação de práticas de ESG. Foram discutidas as dificuldades em garantir a conformidade em toda a cadeia de fornecedores e a necessidade e ferramentas eficazes para monitorar e avaliar o desempenho dos terceiros. Painel 08: Os Criptoativos no financiamento do terrorismo – transações anônimas e ameaças globais Moderado por Emília Campos, Consultora Jurídica para Mercados Disruptivos da Malgueiro Campos & Zardo Advocacia, Jorge Lasmar, Professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, Renata Mancini, Conselheira da ABCripto, e Togzhan Kassenova, Especialista em Política Nuclear e Prevenção de Crimes Financeiros da Suny-Albany, o painel discutiu o uso de criptoativos no financiamento do terrorismo, destacando as práticas mais recentes e os desafios associados a essa nova forma de transação financeira. Jorge Lasmar iniciou o painel abordando as mudanças nas práticas de financiamento do terrorismo desde os ataques de 11 de setembro de 2001, enfatizando o aumento no uso de criptoativos devido à sua natureza anônima e descentralizada. “Quando houve os atentados de 11 de setembro, no dia 12 de setembro, o governo americano se reuniu e começou a sua primeira guerra contra o terror, que foi exatamente um aspecto financeiro. Evoluções como o código SWIFT e BAN vieram daí.” Renata destacou a importância de um KYC contínuo e de um monitoramento eficaz, não apenas das transações em trading fiat (moeda fiduciária), mas também em criptoativos. “A visão negativa de que o mundo cripto era utilizado só para o crime já não é mais assim porque a gente já consegue verificar um blockchain do início ao fim.” Togzhan Kassenova explicou como a Coreia do Norte tem utilizado criptoativos para financiar suas atividades ilícitas. “A Coreia do Norte já tem mais ou menos 45 armas nucleares e materiais nucleares. E tem mísseis que podem voar mais ou menos da Norte-Coreia até os Estados Unidos.” Ela explicou como o regime norte-coreano utiliza criptoativos para escapar das sanções internacionais, realizando ataques cibernéticos e utilizando VPNs e mixadores de IP para aumentar o anonimato das transações. Emília e Renata esclareceram que, embora criptoativos não sejam atualmente o principal meio de financiamento do terrorismo, eles representam uma ameaça emergente que precisa ser monitorada de perto. Isso ocorre, pois, a anonimidade das transações com criptoativos dificulta a identificação dos beneficiários finais e complica o rastreamento de fundos ilícitos, tornando-se uma ferramenta atraente para atividades criminosas. Para mitigar os riscos associados ao uso de criptoativos no financiamento do terrorismo e garantir a segurança e a integridade das operações financeiras, as instituições devem adotar algumas práticas, como: Implementar ferramentas avançadas de monitoramento de blockchain para rastrear transações em tempo real e identificar padrões suspeitos. Estabelecer um processo de Conheça Seu Cliente (KYC) contínuo e rigoroso, abrangendo tanto transações em moeda fiduciária quanto criptoativos. Fortalecer a colaboração entre o setor privado e entidades governamentais para compartilhar informações e melhores práticas no combate ao financiamento do terrorismo. Promover a educação e o treinamento contínuo de funcionários e parceiros sobre as melhores práticas de compliance e as últimas regulamentações internacionais. Realizar análises de risco detalhadas considerando a geografia, a tecnologia e o tipo de criptoativo envolvido, adaptando as estratégias de mitigação conforme necessário. Painel 09 – O papel do mercado na prevenção e combate ao crime ambiental e na promoção da responsabilidade social O Painel 09 teve a presença de Bernardo Mota, Coordenador-Geral de Articulação Institucional do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça, Humberto Freire de Barros, Diretor da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, e Raoni Rajão, Diretor de Políticas de Controle do Desmatamento e Queimadas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Bernardo Mota introduziu a importância do combate ao crime ambiental e à lavagem de dinheiro, destacando que essas atividades criminosas, frequentemente, ocorrem em paralelo. “O crime ambiental é a 3ª maior fonte de lavagem de dinheiro mundialmente, ficando apenas atrás de tráfico de drogas e contrabando.” Humberto Freire de Barros focou na cadeia de logística do crime ambiental, explicando como as atividades ilegais muitas vezes envolvem redes complexas que atravessam fronteiras. Ele também ressaltou a necessidade de cooperação internacional para desmantelar essas redes e promover a transparência nas cadeias de suprimentos. Raoni abordou a necessidade de envolver o setor privado na governança ambiental. “Precisamos sair do governo e ir para a governança,” afirmou. Ele destacou a importância da rastreabilidade para garantir a origem sustentável dos produtos, acrescentando que, atrelado ao due diligence, é possível evitar a compra de produtos provenientes de áreas desmatadas ilegalmente. As discussões do painel forneceram diretrizes para que empresas de todos os setores possam aplicar esses conhecimentos em suas operações diárias, como: implementação de rastreamento e due diligence; colaboração com entidades governamentais; investimento em políticas de responsabilidade social; apoio a iniciativas de recuperação ambiental. Painel 10 – Inteligência Artificial na prevenção de fraudes, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo O último painel do Congresso teve a presença de Danila Soterroni Rodrigues, Diretora de Financial Crime Compliance do Grupo Travelex, Mateus Vendramini Polizeli, AML & Analytics Risk Manager do Itaú Unibanco S.A., Roberto Zaina, Cofundador da Data Virtus Treinamentos e Soluções, e Wellington Omena, Data & Analytics Head do Santander. Os painelistas discutiram como a IA está revolucionando os processos de prevenção de fraudes, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, proporcionando uma abordagem mais eficiente e precisa a esses processos. Roberto Zaina iniciou o painel explicando que a IA utiliza técnicas como aprendizado de máquina e o Deep Learning para analisar grandes volumes de dados, identificar padrões e prever comportamentos futuros. “A máquina aprende com dados passados e é capaz de opinar sobre novas operações,” afirmou. Wellington explicou como a IA está sendo aplicada no mercado brasileiro, especialmente no onboarding de clientes. “O primeiro grande exemplo é a autenticação a prova de vida, que utiliza IA para comparar e verificar a identidade de uma pessoa com alta precisão,” explicou. Ele também mencionou a importância da checagem de dados e a verificação de sancionados, utilizando técnicas avançadas de IA para garantir a integridade das informações. Mateus Vendramini enfatizou que a automação proporcionada pela IA reduz significativamente o tempo de análise de dados, permitindo uma detecção mais rápida e precisa de fraudes. Ferramentas de aprendizado de máquina identificam anomalias que seriam imperceptíveis aos analistas humanos, destacando a importância de validar continuamente os dados para garantir a qualidade das análises. Ao final, Roberto Zaina explicou como a Inteligência Artificial é utilizada no monitoramento de transações financeiras, ajudando a identificar operações suspeitas conforme normas de órgãos reguladores. Ele destacou a importância da colaboração com o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para filtrar e analisar comunicações, permitindo uma resposta rápida e eficaz a possíveis atividades ilícitas. Conclusão O 6º Congresso Internacional do IPLD proporcionou boas discussões sobre a prevenção à lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo, ESG, sanções internacionais, e o uso de tecnologia para mitigar riscos. Os painéis abordaram a necessidade de uma abordagem integrada e cooperativa entre mercado, reguladores e sociedade para construir um ambiente econômico mais seguro e confiável. A troca de conhecimentos e experiências entre os participantes reforçou a importância da inovação e da colaboração para enfrentar os desafios complexos e dinâmicos do cenário atual. Aproveite para se aprofundar nos temas e acesse a entrevista realizada com Togzhan Kassenova, uma das especialistas que estiveram presentes no 6º Congresso Internacional do IPLD.