11/01/2024 Atualizado em : 26/01/2024

Equilíbrio entre sigilo bancário e transparência: implementação das recomendações do GAFI e seus desafios globais

11/01/2024 Atualizado em : 26/01/2024

O GAFI (Grupo de Ação Financeira) é uma organização internacional que tem como objetivo combater as operações de Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (LD-FT) através do estabelecimento de padrões e recomendações globais, que abrangem várias áreas, incluindo as leis de sigilo das instituições financeiras.

As diretrizes do GAFI têm sido amplamente adotadas em todo o mundo como padrões internacionais para prevenir a LD-FT. Por sua vez, os países membros do GAFI são incentivados a implementar essas recomendações em suas leis e regulamentos nacionais, sendo avaliados quanto à conformidade com esses padrões por meio de avaliações mútuas. A cooperação internacional e o cumprimento dessas orientações são essenciais para a eficácia das medidas de combate à LD-FT em âmbito global.

Conflitos entre leis nacionais e recomendações internacionais

É evidente que os desafios se encontram na medida em que ocorrem divergências com leis nacionais. Em alguns países, por exemplo, as leis de sigilo bancário são rigorosas e podem colidir frontalmente com as Recomendações do GAFI, as quais tomam como diretrizes a necessidade de compartilhamento de informações para fins de investigação e cooperação internacional.

Quando ocorre o conflito entre normas e leis nacionais com as Recomendações e práticas internacionais, pode ocorrer a facilitação de práticas ilícitas de LD-FT como consequência deste conflito, enfraquecendo os esforços globais para combater essas ameaças.

Por exemplo, em países em que as leis nacionais são muito rigorosas em relação ao sigilo bancário e não permitem o compartilhamento de informações financeiras suspeitas, cria-se um ambiente favorável para a lavagem de dinheiro, esses países normalmente são reconhecidos como “paraísos fiscais”.

O papel do sigilo bancário e os desafios da cooperação internacional

Ausente a cooperação internacional por questões de conflitos entre leis nacionais de instituições financeiras, dificulta-se a investigação de potenciais crimes financeiros transnacionais, como a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo, pois limita a capacidade dos países trocarem informações relevantes para combater as ameaças destes crimes de forma eficaz.

Portanto, países com leis de sigilo bancário muito rígidos e pouco alinhados com as recomendações do GAFI, acabam por enfraquecer o sistema global de segurança financeira, pois abrem brechas para que indivíduos e organizações criminosas realizem atividades ilícitas nesses territórios.

Isto ocorre por conta da proteção dos direitos individuais e da privacidade dos cidadãos, uma preocupação legítima e importante. Por este motivo, as leis de sigilo bancário devem sempre buscar serem cuidadosamente elaboradas para garantir que somente informações relevantes e estritamente necessárias sejam compartilhadas quando houver suspeita fundamentada.

Importante ressaltar que a cooperação internacional entre países é peça fundamental para combater a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo. No entanto, o que percebemos em diversos casos é que a falta de padronização e harmonização das leis de sigilo bancário entre países pode dificultar a troca eficaz de informações entre órgãos de diferentes países.

Na medida em que muitos países exigem autorização judicial para acessar informações financeiras protegidas pelo sigilo bancário, isso pode acarretar em complexidade e tempo às investigações, principalmente em casos urgentes envolvendo LD-FT. Este impasse é uma preocupação do GAFI, o qual orienta que o sigilo bancário não deve ser uma barreira para a troca de informações quando houver suspeita de atividades ilegais.

Riscos associados ao uso indevido das leis de sigilo

Vale destacar que a utilização indevida das leis de sigilo das instituições financeiras pode apresentar sérios riscos no que concerne à facilitação de atividades ilícitas e a obstrução da justiça. Alguns dos principais riscos associados a essa questão e que devem ser considerados:

  • Lavagem de Dinheiro: o sigilo bancário pode ser usado por indivíduos e organizações criminosas visando ocultar a origem dos recursos obtidos ilegalmente. Ao esconder transações financeiras por meio do sigilo, criminosos podem integrar recursos ilícitos à economia formal, tornando-os aparentemente legítimos.
  • Financiamento do Terrorismo: da mesma forma, o sigilo bancário pode ser explorado por grupos terroristas que buscam financiar suas atividades, isto é, eles podem usar contas bancárias secretas para movimentar os recursos entre fronteiras e financiar operações terroristas e, deste modo, dificultar a detecção e o combate a essas atividades.
  • Corrupção: é comum que políticos e funcionários públicos que praticam corrupção abusem das leis de sigilo para esconder valores oriundos de propinas, desvios de recursos públicos e outros atos advindos de corrupção, prejudicando enormemente a integridade das instituições e o desenvolvimento econômico-social.
  • Obstrução de Justiça: caso as informações financeiras relevantes para investigações criminais sejam mantidas em sigilo de maneira injustificada, podem dificultar as ações das autoridades judiciais e o processo de persecução criminal, podendo gerar até mesmo o impedimento de obtenção das provas necessárias para processar e condenar os criminosos.
  • Evasão fiscal: a utilização indevida do sigilo bancário pode facilitar a evasão fiscal, pois permite que indivíduos e empresas escondam ativos não declarados e rendimentos não tributados das autoridades fiscais.
  • Corrupção em instituições financeiras: em alguns casos, as instituições financeiras podem ser cúmplices na facilitação de atividades ilícitas por meio de subornos ou “vista grossa” na verificação de clientes, acarretando desconfiança no setor financeiro e nas instituições reguladoras.

Medidas de combate e a importância da regulação e cooperação

Buscando mitigar esses riscos, muitos países estão adotando medidas mais rigorosas de combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo, assim como a prática de evasão fiscal, incluindo a implementação de regulamentações mais estritas, a promoção da transparência financeira e a cooperação internacional para o intercâmbio de informações financeiras relevantes entre órgãos reguladores.

Avaliações Mútuas do GAFI: impactos para instituições financeiras

O GAFI realiza uma análise detalhada sobre como os países enfrentam desafios na Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo, iniciando com a formação de uma equipe de especialistas internacionais e concluindo com um relatório final discutido em sua plenária. Para esclarecer este processo e seus impactos no setor financeiro, o IPLD desenvolveu um e-book exclusivo em português, que detalha desde a metodologia de avaliação do GAFI até as implicações e estratégias de adaptação para instituições financeiras. Clique e faça o download.


Curadoria do IPLD

Autores

João Eduardo Malucelli

Curadoria IPLD

Advogado, formado pelo Centro Universitário Curitiba, pós-graduado em Direito Eleitoral pela PUC-MG e membro das Comissões de Anticorrupção e Compliance e, Direito Eleitoral da OAB Paraná.