Atuando há 16 anos no Banco Central do Brasil, Juliana Mozachi conta um pouco sobre sua experiência como Chefe do Departamento de Supervisão de Conduta do BACEN, os desafios enfrentados atualmente na PLD-FT e caminhos para a promoção de maior igualdade de gêneros nos ambientes corporativo e financeiro. Juliana Mozachi 1. Primeiramente, gostaria que você nos falasse um pouco sobre sua trajetória profissional até a ocupação de um cargo de chefia no Banco Central. Considero a minha formação acadêmica bastante eclética: me graduei em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, bem como em Administração de Empresas pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Ingressei no mestrado na American University, na área de Administração Pública, e dei continuidade aos estudos na University of Illinois Urbana-Champaign, cursando o doutorado em educação. Acredito que o contato com cada uma destas áreas diversas, de alguma forma, contribuiu para que eu pudesse exercer o cargo em que me encontro atualmente. Após concluir meus estudos, e desejando realizar mais pela sociedade, ingressei no Banco Central via concurso público, atuando, em um primeiro momento na área de Administração, onde atuei como Chefe da Universidade Corporativa do Banco Central. Posteriormente, em 2018, fui para a área de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta como Chefe de Gabinete. Em abril deste ano, todavia, assumi o cargo de Chefe do Departamento de Supervisão de Conduta do Banco Central. 2. Qual o escopo do processo de Supervisão de Conduta do BACEN? De que modo ele se diferencia da Supervisão Prudencial? Costumo afirmar que a supervisão de conduta, área em que atuo, é a supervisão realizada com impacto direto e imediato na sociedade e nos cidadãos. A supervisão de conduta fiscaliza a prevenção de lavagem do dinheiro e financiamento do terrorismo, o relacionamento das instituições financeiras com os clientes e realiza a auditoria de observância do sistema financeiro. A supervisão prudencial analisa riscos sistêmicos no sistema como um todo, que podem decorrer das ações individuais das instituições financeiras. As duas formas de supervisão se complementam e atuam lado a lado,contribuindo, cada uma à sua maneira, para assegurar maior segurança ao sistema financeiro. Essa parceria é fundamental para que tenhamos um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo. 3. Quais são, na sua opinião, os desafios para a implementação de medidas de PLD nas instituições brasileiras e de que forma seria possível mitigar estes problemas? O primeiro desafio está, sem dúvidas, no contexto digital em que nos encontramos. Muito se fala das criptomoedas, das fraudes eletrônicas, e dos desafios que o mundo digital representa à PLD-FT. É preciso compreender, todavia, que as novas tecnologias fazem parte de um contexto maior, observado em todos os segmentos da sociedade. A todo momento observamos o uso de novas tecnologias para o cometimento de crimes financeiros. A lavagem de dinheiro toma, deste modo, novas formas, sendo um grande desafio, neste momento, a criação de mecanismos que viabilizem o monitoramento e combate aos crimes que envolvem o emprego de tecnologias. Gosto de pensar, no entanto, que as novas tecnologias trazem desafios e oportunidades: se é verdade que o contexto digital proporciona novos desafios para a implementação de medidas de PLD-FT, também é verdade que fornece ferramentas mais potentes para que a prevenção e combate sejam realizados de forma mais célere e eficiente. Também vejo, à luz das recomendações internacionais sobre o tema, grande desafio no que se refere ao financiamento do terrorismo. Felizmente, historicamente não temos no Brasil uma cultura forte ligada ao terrorismo, ao contrário do que ocorre em outros países. Isso nos traz um desafio ao ligar com o tema e mapear as tipologias envolvidas. 4. As áreas financeira e corporativa consistem ainda em ambientes bastante masculinos. O que poderia ser feito para promover maior igualdade de gênero nestes espaços? Creio que é fundamental avançarmos em três passos para promover maior igualdade de gênero nestes espaços: é preciso desmitificar a PLD-FT; capacitar; e abrir espaços. Por “desmitificar” quero dizer que precisamos afastar a ideia de que o setor financeiro é excessivamente técnico, e que, de algum modo, esta tecnicidade seria um impeditivo para que mulheres pudessem atuar nesta área. É preciso que as mulheres percebam que são plenamente capazes de ocupar cargos na área financeira, e que, a área de PLD-FT, embora, de fato, exija o domínio de alguns conhecimentos técnicos, não é muito diferente de tantas outras áreas que também exigem profundidade técnica, cujas mulheres são brilhantes. O segundo passo consiste na capacitação das mulheres interessadas em atuar nessa área, para que se sintam seguras e preparadas. Seguidos estes dois passos, restaria, por fim, trazer de fato estas mulheres ao campo. Neste terceiro e último passo, penso que a contribuição de outras mulheres, já inseridas na área, é fundamental, pois contribui para a inclusão de novas profissionais, consequentemente promovendo ambientes profissionais com maior representatividade feminina. 5. Houve, na sua opinião, um aumento proporcional no número de mulheres na PLD nos últimos anos? A área de PLD-FT ainda é bastante masculina, e acredito que um longo caminho ainda deve ser trilhado até que a igualdade de gêneros seja atingida. Vejo profissionais mulheres competentíssimas atuando em PLD-FT tanto dentro do Banco Central quanto em outros órgãos públicos e instituições financeiras. Espero contribuir para que esse número aumente a cada ano, incentivando que outras mulheres se juntem a nós. Fontes consultadas: Banco Central: Supervisão Princípios Fundamentais para uma Supervisão Bancária Efetiva Conhecendo a Supervisão do Banco Central Autor : Da Redação