Exemplo da capacidade feminina de se dedicar a múltiplas tarefas, Aline Reginato conduz o próprio negócio como sócia da Lotus Gestão e FIRA, é palestrante e também professora no Insper e ABBC. De quebra, encontrou energia para a criação do podcast Casa do Compliance. Aline Reginato Sua primeira função relacionada à PLD foi em 1999, no Bank of America, onde atuou como Compliance Officer enquanto concluía graduação em Direito. Profissionalmente nunca se afastou dessa área, e seus estudos cada vez mais para ela confluíram, como seu MBA em Direito da Economia e da Empresa pela FGV. Aproveite esta entrevista também como uma breve aula sobre características do trabalho em compliance. Existem obstáculos na PLD para as profissionais mulheres? É claro que, culturalmente, estamos numa sociedade machista, o que também se percebe no mercado financeiro e de capitais. No entanto, o perfil do profissional que atua nas áreas de compliance, PLD, governança corporativa em geral, está mudando, com as mulheres ganhando mais espaço. Pessoalmente creio não ter enfrentado – ou não percebi dessa forma – discriminação por ser mulher. Os desafios sempre me pareceram ligados à posição, ao cargo. Acho importante, no entanto, pontuar que aceitar qualquer posição que nos diminua estaria em desacordo com o poder que realmente temos, como atestam nossas frequentes duplas e triplas jornadas. Nosso desejo é que não sofrer qualquer forma de discriminação seja, justamente, o “novo normal”. E como é trabalhar nessa área? Atuar no mercado financeiro e de capitais, ou em outros mercados, em processos relacionados à segunda linha de defesa (compliance, gestão de risco, governança corporativa) e à terceira linha de defesa (auditoria) é desafiador, devido ao nível de maturidade de governança corporativa que se exige das instituições em geral. Muito tem se falado nos temas dessa segunda linha de defesa, mas ainda cabem algumas reflexões e análises dos sistemas de controles internos adotados pelas instituições; encarar a “verdade nua e crua” da relação entre teoria e prática das instituições nesse sentido. Como já comentei, em minha experiência percebi os desafios enfrentados como consequências da posição ocupada em determinados momentos da carreira. Para lidar com isso, sempre busquei promover a cultura da confiança e de Advisory junto aos demais gestores. Antes nós mesmos identificarmos um risco e tratá-lo internamente do que ele ser identificado em uma auditoria externa, como a de um Ministério Público, em se tratando de crime de corrupção e de lavagem de dinheiro. Por que compliance é um investimento, não um gasto? Imagine que a sua instituição se veja envolvida em um caso de crime de lavagem de dinheiro. Isso representaria a contratação de advogados para defesa de processos administrativos (dependendo do segmento de atuação), de processos judiciais (para os administradores e para a Instituição), além do risco de imagem, que pode levar a uma recuperação judicial e, em último grau, à falência, pois significa perda de credibilidade entre clientes, prestadores de serviço e parceiros de negócio. Adotar uma estrutura adequada de controles internos garante à Instituição o cumprimento dos objetivos estratégicos, de informação e de compliance, mas, no fim da linha, o que a aderência às exigências regulatórias reflete é uma conduta ética. Infelizmente, vê-se ainda uma cultura muito reativa, ao invés de preventiva; uma cultura que encara compliance como custo, ou como um corpo de bombeiros para apagar incêndios. Vamos falar sobre tecnologia. O que temos hoje de mais moderno? Antes disso, vamos ter claro que as instituições precisam fazer o dever de casa quanto à sua estrutura de governança corporativa em PLD: tratamento de possíveis conflitos de interesses entre áreas comerciais e áreas de controle, conflitos e priorizações na divisão de orçamento entre áreas “geradoras de receitas” versus áreas de controle, capacitação e treinamento de equipes, abordagem baseada em risco… Feito isso, podemos falar em tecnologias, as quais podem atender do processo de onboarding de clientes (liveness, biometria, documentoscopia, checagem de dados para qualificação do cliente) às atividades de monitoramento (IA, bigdata, modelagens estatísticas…). É notável seu interesse por seguir se especializando, sem falar na disposição para compartilhar esse conhecimento. Gostaria que falasse, para encerrarmos, sobre a importância da busca por capacitação e certificação para o profissional de PLD/FT. A busca por capacitação contínua e certificações deve ser um diferencial dos profissionais que atuam em áreas de PLD, compliance e gestão de risco, afinal, enquanto estamos nos capacitando para melhorar as estruturas de controles internos das instituições, também os fraudadores e lavadores de dinheiro estão buscando aperfeiçoar a forma de burlar esses controles. Temos diversos cursos de especialização, mas sinto faltar ainda uma proposta mais robusta de formação de profissionais para atuarem nessas áreas. Vê-se que estamos falando de um profissional multidisciplinar, que vá muito além do entendimento das regras. Pressupõe entender processos e controles internos, operações, produtos… De qualquer forma, idealmente devemos pensar em uma capacitação contínua de toda a Instituição. REFERÊNCIAS LinkedIn de Aline Reginato FIRA Intelligence Management Lotus: Inovação em Governança Casa do Compliance – Spotify