Para entender melhor sobre os desafios das instituições financeiras diante do agravamento do conflito entre Israel e Hamas, o IPLD entrevistou o especialista em inteligência financeira e PLD-FTP, ex-Diretor do COAF e atual Diretor Executivo da AML Reputacional, Joaquim Cunha. Veja a entrevista exclusiva, a seguir: IPLD – Em termos de PLD-FTP, quais são os desafios que as instituições financeiras enfrentam no contexto do conflito Hamas-Israel? Joaquim: No contexto deste conflito, as instituições financeiras enfrentam desafios adicionais em relação à Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo e Armas de Destruição em Massa (PLD/FTP). No momento em que há uma intensificação do conflito, reforçam-se as precauções com a gestão do risco de ocorrência de financiamento de operações terroristas. O desafio imediato das instituições financeiras, é o reforço em suas medidas de detecção e análise de operações que possam configurar financiamento de atos terroristas, dentro e fora do teatro do conflito. Por outro lado, as instituições financeiras enfrentam desafios adicionais significativos. Existe uma preocupação premente em distinguir entre transações com propósitos ilícitos, suscetíveis de suspeita, que devem ser identificadas e comunicadas às Unidades de Inteligência Financeira. Essa tarefa complexa se contrapõe às transações, cursadas e direcionadas a pessoas e entidades legítimas, que dedicam esforços incessantes na busca por formas de atenuar as adversidades de um conflito devastador para ambas as partes. Nesse contexto, tais operações devem ter curso normal, uma vez que buscam garantir assistência às pessoas e entidades afetadas pela crise. IPLD – Diante das constantes mudanças no cenário geopolítico global e das inovações tecnológicas, quais são as melhores práticas recomendadas para as instituições financeiras atualizarem seus sistemas de PLD-FTP, a fim de responder de maneira eficaz às novas ameaças de LD-FT que surgem com os conflitos internacionais? Joaquim: As tipologias de Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo estão em constante evolução. Na medida em que os profissionais dedicados à prevenção e combate a esses crimes desenvolvem processos, técnicas e novas soluções tecnológicas, os criminosos avançam em suas estratégias, criando novos mecanismos para lavar recursos de origem ilícita e também para viabilizar o financiamento do terrorismo. Essa corrida incessante entre medidas de segurança e artimanhas criminosas demanda uma vigilância constante e adaptação ágil por parte das autoridades e organizações envolvidas com o tema. Diante das transformações geopolíticas e dos avanços tecnológicos, é imperativo que as instituições financeiras reexaminem seus processos e ferramentas de detecção e análise de situações suspeitas. Essa adaptação requer investimentos substanciais em novas tecnologias, possibilitando a incorporação de cenários mais desafiadores em seus mecanismos de detecção. Isso inclui a implementação de novas parametrizações que considerem uma gama mais abrangente de elementos de risco, a monitorização de transações e operações alinhadas ao perfil de risco dos clientes/usuários, a vigilância das redes sociais e a aplicação de inovações tecnológicas e procedimentais na análise de padrões complexos. Essas medidas são essenciais para elevar a transparência nas transações e fortalecer os protocolos de segurança financeira. Por outro lado, devem, ainda, revisitar e atualizar os processos e procedimentos de PLD-FTP e investir cada vez mais em treinamento e capacitação de profissionais para lidar com este tema, a fim de prepará-los para lidar de maneira eficaz e atualizada com essas questões complexas e em constante evolução. IPLD – A transparência financeira é crucial para combater a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento ao Terrorismo. Como as instituições financeiras podem aprimorar sua infraestrutura e processos internos para assegurar a integridade das operações em regiões conflituosas? Joaquim: Para assegurar a integridade das operações em regiões conflituosas, é essencial que as instituições financeiras conduzam uma diligência aprimorada em relação a clientes e parceiros comerciais baseados nessas áreas. Além disso, é fundamental investir em tecnologias avançadas de monitoramento, além de estabelecer canais eficazes de comunicação com autoridades locais e órgãos reguladores para o intercâmbio de informações. Da mesma forma, é crucial reportar operações e transações suspeitas à Unidade de Inteligência Financeira. Importante ressaltar que o reforço das precauções não deve se restringir apenas a regiões conflituosas. Estamos imersos em um mundo globalizado, especialmente no cenário financeiro, onde as transferências de recursos ocorrem em questão de segundos, independentemente da localização geográfica. Dessa maneira, mesmo operações e transações realizadas em áreas afastadas de regiões conflituosas podem estar destinadas à Lavagem de Dinheiro, Financiamento do Terrorismo e à aquisição de Armas de Destruição em Massa nesses locais. A atenção especial na identificação de clientes e usuários, a avaliação de risco das operações e transações, bem como a detecção, análise e comunicação de situações suspeitas, devem ser reforçadas, mesmo quando ocorrem em localidades distantes dos cenários de conflito. IPLD – Em um cenário de conflito como o do Oriente Médio, onde as operações financeiras podem ser usadas como um meio para financiar atividades terroristas, quais medidas adaptativas de PLD-FTP podem ser implementadas para fortalecer os sistemas de controle e reduzir os riscos? Joaquim: Em cenários de conflito, como o presente, é imperativo que as instituições financeiras e outros setores obrigados, sujeitos à implementação de procedimentos de prevenção, fortaleçam rapidamente suas medidas de PLD-FTP. Isso envolve: A intensificação das ações na identificação e qualificação de clientes, colaboradores, parceiros e fornecedores, de modo a melhor conhecê-los, com o uso robusto de bases de dados reputacionais para um entendimento aprofundado e mitigação de riscos; A revisão dos cenários de sinais de alerta em suas ferramentas de detecção; A reavaliação dos riscos associados a clientes, produtos, serviços, operações, transações, canais e regiões geográficas; O treinamento e capacitação das equipes, com enfoque especial em abordagens específicas para períodos de intensificação de conflitos e atos terroristas, como o que ocorre atualmente; A atenção constante às diretrizes normativas e orientações emitidas pelas entidades supervisoras e autoridades em geral, além da manutenção de uma colaboração estreita com agências de aplicação da lei e órgãos reguladores. IPLD – Considerando a realidade brasileira e os últimos acontecimentos relacionados à possível cooptação de brasileiros por grupos terroristas, existem medidas práticas que podem ser adotadas no âmbito das instituições financeiras para combater e prevenir o financiamento do terrorismo? Joaquim: No contexto brasileiro, é decisivo que as instituições financeiras e demais setores sujeitos à obrigação de PLD-FTP intensifiquem e aprofundem a prática do princípio “conheça seus clientes, parceiros, fornecedores e colaboradores”, bem como fortaleçam os processos de monitoramento, detecção e comunicação de operações e transações suspeitas. É crucial destacar que a conexão entre grupos terroristas e organizações criminosas, que operam no território nacional, representa um desafio adicional para os procedimentos de PLD-FTP. Isso ocorre porque estas últimas já possuem estruturas consolidadas no território nacional, contando com uma extensa rede de colaboradores e conhecimento dos mecanismos de Lavagem de Dinheiro, os quais podem ser explorados para o Financiamento do Terrorismo. Dessa maneira, é crucial reforçar imediatamente todo o sistema de PLD-FTP, com ênfase especial na identificação e qualificação das contrapartes e clientes e do monitoramento e detecção de situações suspeitas, a fim de prevenir a utilização de estruturas financeiras nacionais para a execução dessa modalidade criminosa. Da Redação Conheça nosso entrevistado! Joaquim Cunha Diretor Executivo da AML Reputacional, especialista em inteligência financeira e PLD-FTP e ex-Diretor do COAF