Imagem: Gov.br Nesta entrevista exclusiva, tivemos a oportunidade de conversar com o Presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Mendonça, para discutir um tema de extrema importância: os crimes ambientais e os esforços empreendidos para combatê-los. Diante da crescente preocupação com a destruição ambiental e seus impactos, buscamos entender se ainda é possível desenvolver projetos capazes de reverter esse cenário tanto no Brasil quanto no mundo. Vamos conferir! Redação IPLD: Ao longo da semana, mais de 400 focos de incêndio queimaram as florestas canadenses, sendo mais de 200 completamente fora de controle. Assunto dos últimos dias e a preocupação em como conseguir parar tanto desmatamento. De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) produzido por mais de 50 cientistas, como resultado do aquecimento global, a frequência e intensidade dos grandes incêndios vão aumentar 14% no fim desta década e 50% até o fim deste século. Com base nessas informações ainda é possível ter projetos que possam reverter esse caos ambiental no Brasil e no Mundo? Rodrigo Mendonça: Sim. O aquecimento global é algo que está batendo à nossa porta. É algo que é conhecido desde o final dos anos 80, em 1992 no Brasil, foi assinada convenção quadro de mudanças climáticas da ONU, e de lá para cá nós já tivemos inúmeras outras regulamentações como o Protocolo de Kyoto, e mais recentemente o Acordo de Paris, e o mundo precisa enfrentar. Precisa fazer a transição energética, precisa reduzir suas emissões, e notadamente o Brasil pode ocupar um cenário de destaque. Por quê? Por que o Brasil tem metade do seu território coberto com alguma vegetação nativa, temos a maior floresta tropical do mundo, obviamente que também vamos sofrer os efeitos, como o agravamento de incêndios florestais, eventos climáticos extremos. Mas o Brasil pode por meio de restauração florestal, ajudar a retirar muito carbono da atmosfera, obviamente que a gente também tem que fazer a lição de casa na redução do desmatamento e obviamente também ser parte não apenas do problema mas também da solução. Então o Brasil pode fazer muito para ajudar na redução do agravamento do aquecimento global. Redação IPLD: Sobre a Amazônia, poderia nos atualizar com os atuais dados de desmatamento e se tem algum projeto para revitalização do coração do nosso Brasil? Rodrigo Mendonça: O governo Brasileiro agora no último dia 05 de Junho, acabou de lançar, após um número muito grande de consultas, o novo plano de prevenção e combate ao desmatamento da Amazônia, chamado PPCEDAM. O PPCEDAM, no primeiro governo do presidente Lula, foi responsável por uma redução de 82% do desmatamento naquela época, e nós não temos dúvida que este plano, se bem executado, vai também trazer grandes resultados. No caso específico deste ano, o Ibama está trabalhando desde o primeiro dia do ano para combater o desmatamento. Nós tivemos agora um dado mais sólido, da redução de 30% do número de alerta de desmatamento , então acho que ainda é cedo para comemorar, mas nós acreditamos que estamos no caminho certo, até aqui as ações, são ações de comando e controle, fiscalização, autos de infração, embargos, apreensões, mas nós temos certeza que o ministério do meio ambiente junto com outros ministérios irão implementar uma longa e decisiva política de bioeconomia, capaz de valorizar a floresta em pé, valorizar a restauração florestal, e inúmeras outras estratégias de revitalização da maior floresta tropical do mundo e que dois terços dela estão no Brasil. Redação IPLD: Segundo a BBC News, a atuação de facções que controlam o tráfico de drogas está cada vez mais, influenciando o aumento de crimes ambientais na Amazônia, como desmatamento, grilagem, garimpo em terras indígenas e extração ilegal de madeira. Poderia falar um pouco mais sobre a relação do tráfico de drogas e o crime ambiental? Rodrigo Mendonça: Os crimes ambientais também se organizaram ao longo do tempo, como o crime organizado. Isso envolve, por exemplo, o tráfico de animais, que é o terceiro maior tráfico do mundo, perdendo para armas e drogas. Isso envolve a extração e o comércio ilegal de madeira, isso envolve a mineração ilegal. Mas o que a gente vem sentindo nos últimos tempos é que facções criminosas e principalmente, organizações criminosas urbanas que atuam nas grandes cidades do país, começaram a se envolver com os crimes ambientais da Amazônia. Então hoje, o crime organizado na Amazônia também tem essa característica da atuação de facções que usam crimes ambientais para lavagem de dinheiro, notadamente de dinheiro de tráfico de drogas. A gente já tinha um problema de lavagem de dinheiro de desmatamento, de grilagem, de garimpo, de madeira ilegal, de comércio de animais, de pesca ilegal, mas ao que a gente está assistindo é, outros crimes utilizando os crimes ambientais notadamente na lavagem do dinheiro e uma forma de enriquecimento ilícito muito rápido e uma oportunidade que surgiu com a total falta de estratégia de comando e controle para a Amazônia. Redação IPLD: O termo ESG está cada vez mais sendo falado e usado como um norte positivo para a melhoria do meio ambiente. Poderia dissertar sobre a importância das indústrias e empresas em prol desse objetivo maior que é um mundo melhor para se respirar e viver? Quais ações estão sendo feitas para essa parceria? Rodrigo Mendonça A estratégia ESG (E de meio ambiente, S de social e G de governança), obviamente que é uma estratégia muito importante do ponto de vista privado. Não é uma estratégia que é de responsabilidade do Ibama, mas o Ibama vê com muitos bons olhos e se coloca à disposição. Muitas atividades privadas, obras, empreendimentos, atividades econômicas, possuem licenças ambientais do Ibama, e você ter uma integração entre aquilo que é obrigação legal, ambiental, com o compromisso efetivo das empresas em respeitar o meio ambiente, em respeitar a sociedade do entorno, ter compromissos éticos, ter uma boa governança, para nós faz muito sentido. Então o Ibama saúda e vê com muitos bons olhos a popularização da utilização do ESG por empresas, indústrias e atividades privadas em busca da sustentabilidade. Redação IPLD: Rodrigo, qual seu maior sonho como Presidente do IBAMA? Qual o projeto realizado que ficará satisfeito com aquela sensação de missão cumprida? Rodrigo Mendonça: Eu trabalho com o meio ambiente desde a minha adolescência, sou apaixonado pela natureza, pelas florestas, pelo cerrado, por cada um dos biomas terrestres, pelo mar. Então, obviamente que eu quero muito fazer um bom trabalho no Ibama, e para isso eu conto com todo um trabalho de uma equipe de excelência que foi sendo construída ao longo do tempo por servidores concursados, por servidores que atuam diuturnamente no combate aos crimes ambientais. Obviamente como sonhos, se eu tivesse que elencar apenas um deles, seria a redução significativa nos dados de desmatamento, mas obviamente que o Ibama atua com muitos outros temas, e que a gente precisa continuar trabalhando com muita excelência. Fico muito orgulhoso com essa grande responsabilidade que eu tenho pela frente e vamos trabalhar muito para que muitas entregas relevantes sejam feitas ainda este ano. Leia também: O Preço da Verdade: uma produção centrada em justiça ambiental e ESG Autor: Da Redação