01/11/2022 atualizado em : 01/11/2022

Copa do Mundo 2022 e Terrorismo

01/11/2022 atualizado em : 01/11/2022

Grandes eventos internacionais trazem aumento do risco de atentados, mas também de financiamento do terrorismo.

Os comentaristas esportivos estão prestes a lançar as mais diversas análises das escalações e dos esquemas táticos; os apostadores estão abrindo suas carteiras, virtuais ou não, de olho na sorte; as crianças – e muitos adultos – completaram seus álbuns de figurinhas; muita gente pensa onde, como e com quem vai assistir às partidas, se no escritório ou em home-office. É sempre assim com a Copa do Mundo: todos os olhos voltados para um dos maiores eventos esportivos do planeta.

Mas tudo isso vem junto com um lado sombrio. Afinal, a mesma visibilidade que faz os anunciantes pagarem caro para expor seus produtos nos jogos e durante as transmissões também se tornam atrativos para uma atividade nefasta: o terrorismo.

Profissionais envolvidos com o combate e prevenção a esses crimes sabem que esse tipo de evento globalizado e midiatizado é um alvo potencial a ser buscado por organizações como Al-Qaeda e Estado Islâmico. Quem trabalha com a prevenção contra o terrorismo, portanto, tem sua preocupação redobrada em momentos como a Copa do Mundo. Sabem que há possibilidades muito piores do que a seleção perder de goleada.

 

Momento de risco

 

Além da visibilidade, há dois outros fatores que levam terroristas a verem na Copa do Mundo um atrativo.

Um deles é a presença de grupos visados como alvo. Por exemplo, pessoas de algumas nacionalidades, como norte-americanos, britânicos, israelenses ou de qualquer outro país envolvido em questões geopolíticas delicadas. Somada à vitrine que a cobertura midiática representa, essa presença exige das autoridades e de outros agentes responsáveis uma cautela ainda maior no monitoramento de atividades suspeitas, a fim de preservar a vida de todos.

Um segundo fator, mais diretamente ligado à PLD, é a oportunidade econômica que uma Copa do Mundo, ou qualquer evento que conjuga internacionalização e grande volume de transações, pode significar para malfeitores. É esperado que a quantidade de dinheiro movimentado no país-sede aumente muito. Aumentam, portanto, de modo mais ou menos proporcional, as possibilidades de que se tente lavar dinheiro nessas circunstâncias, mascarando milhões em meio a bilhões. Organizações terroristas podem ver nisso uma oportunidade para ampliar ou fortalecer suas redes de financiamento, sua transferência de recursos.

Nessas circunstâncias, a participação dos setores obrigados no combate e na prevenção se torna ainda mais decisiva. Quando se fala de combate ao terrorismo, o senso comum imediatamente pensa em cenas de filmes ou séries de TV com agentes – em geral de órgãos governamentais – correndo contra o relógio para evitar um atentado. Mas esse combate também se dá em ambientes e análises muito menos cinematográficas, muitas delas feitas pelos setores obrigados, em meio a planilhas, tabelas, relatórios sobre clientes suspeitos. Pode sair daí uma espécie de alerta, de faísca inicial.

 

Prevenção em várias frentes

 

Afinal, é a comunicação de movimentações suspeitas – embora não apenas ela – que leva as autoridades a investigar certas instituições ou clientes específicos, criando a possibilidade de se desbaratar redes de financiamento. Um trabalho meticuloso na identificação do perfil dos clientes, somado à qualidade das informações obtidas e transmitidas, tende a orientar os setores de inteligência nesse combate. Quanto melhores esses dados, maiores as chances de se rastrear os indicadores específicos e suspeitos de atividade envolvida com terrorismo – elementos que, por um motivo óbvio, não são divulgados ao grande público.

É um exemplo de como o combate ao terrorismo se dá em várias frentes. A prevenção contra os atentados talvez tenha maior visibilidade, mas ela, nem de longe, é a única. Especialistas ressaltam que o modelo de combate e prevenção considera a existência de um ciclo de atividades terroristas, no qual, para além dos ataques, há também o recrutamento de membros e o financiamento do grupo.

Tanto um quanto o outro não se restringem a um período do ano, muito menos ao calendário de eventos globais. Não dependem de horário nobre. Uma Copa do Mundo pode significar o aumento da possibilidade de um ataque, mas se trata de um risco pontual. Acabado o evento, esse risco específico diminui. O terrorismo, contudo, se estende no tempo.

E, assim como as autoridades devem estar sempre alertas, também os setores obrigados estão envolvidos nessa prevenção diuturna. Sua colaboração aqui, se qualificada e proativa, pode prevenir muita dor lá na frente. A comunicação de movimentações suspeitas pode fornecer a peça que faltava no quebra-cabeças.

De todo modo, é uma prevenção difícil, pois o seu sucesso, ainda mais se constante, pode implicar sua contestação. Lembra, de certo modo, a questão das vacinas: o trabalho é tão necessário quanto pouco visível, e, quanto mais dá certo, menos parece essencial. Há inclusive estudos sobre contraterrorismo que utilizam esse modelo epidemiológico na sua tentativa de compreender o fenômeno e elaborar a melhor forma de combatê-lo.

Equipamento, profissionais especializados, monitoramento constante e outros requisitos nesse combate ao terrorismo podem parecer supérfluos em locais que não ocorrem atentados, ainda mais num país como o Brasil, pouco visado nesse sentido. Mas, será que alguém em 2001 esperava ataques no coração financeiro de Nova York? Será que queremos realmente pagar para ver?

 

Referências
Entrevista de Jorge Lasmar à redação.

 


 

Autor: Da Redação.