13/10/2022

A importância (e urgência) da incorporação dos princípios ESG no meio empresarial

13/10/2022

Embora não se trate de uma onda passageira, quem se atrasar pode perder a chance do protagonismo em áreas de mercado mais competitivas.

O conjunto de orientações ESG está em evidência, mas sua origem não é recente. Também não é mais uma novidade a importância que o mercado financeiro tem dado a cada um dos temas que compõem a sigla: Environment/Ambiente, Social e Governança.

Durante a pandemia fomos surpreendidos por nossa vulnerabilidade, e isso de forma tão pungente, global, sem distinções e simultânea, que é compreensível a pauta ESG ter se tornado imperativa. Alcançar um mundo mais sustentável, em sentido amplo, se tornou uma questão de sobrevivência.

 

Do que se trata?

A sigla foi cunhada em 2004 por um grupo de grandes instituições – entre elas o Banco do Brasil – que se reuniram para discutir como transformar as já existentes preocupações ambientais, sociais e de governança em pesquisas de mercado e análises de investimento. Contando com o apoio da ONU, um produto foi a publicação do relatório Who Cares Wins: connecting financial markets to a changing world.

Na esfera Ambiental, nota-se em especial a preocupação com os danos causados pelas atividades da empresa. A Social poderíamos resumir em como a empresa se relaciona com a equipe, clientes e sociedade externa, sendo o respeito um valor do qual tudo deriva. Mais distante dos holofotes, mas bastante visada pelos acionistas, está a Governança. O investimento em compliance, a relação com os poderes, existência de canais de denúncia, são fatores que se observam para medir a confiabilidade.

Preocupações com custo também foram afastadas paulatinamente na medida em que se via que o investimento em sustentabilidade não só é viável como pode gerar receita de forma direta, por exemplo reduzindo gastos de operação, ou indireta, através das diversas vantagens trazidas por uma boa reputação. O ESG não deve ser encarado como um problema, mas como uma oportunidade. Não é uma “novidade” contra as empresas, mas potencialmente a favor delas.

 

Incontornável, porém necessita cautela

Diversos números dos últimos três anos demonstram que os investimentos estão sendo rapidamente deslocados para quem escolheu trabalhar conforme esses princípios: a disparada nos Estados Unidos de ações de empresas que investem em ESG; a previsão na Europa de que 57% dos ativos de fundos mútuos estarão em investimentos com critérios ESG até 2025 (pesquisa PwC); no Brasil, dados da Ambima mostram um alto crescimento no patrimônio líquido dos fundos na categoria sustentabilidade e governança.

As iniciativas possíveis nas áreas Ambiental, Social e de Governança são tantas que felizmente nem é esperado que uma empresa se dedique a tudo. O que se espera é que ela, dentro do que lhe diz respeito em sua área de atuação, tenha uma postura ativa de mitigação de danos e de promoção de melhorias internas e no seu entorno. Algumas perguntas importantes são: qual é o agir no mundo da empresa? As mensagens transmitidas por suas ações coincidem com o que se considera as melhores práticas hoje?

Para auxiliá-las na implementação de ESG já existem algumas referências importantes, como as definições de materialidade do GRI, a SABS e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que podem ser conferidos na imagem abaixo:

Fonte: Nações Unidas Brasil

 

Todavia, a incorporação do ESG precisa ser orgânica, fazer parte da estrutura, e ser desejada pelas razões certas. Se não houver coincidência entre os verdadeiros valores da empresa e as orientações das práticas ESG, sua implementação pode se mostrar bastante desafiadora e mesmo arriscar ser tida como oportunismo. Naturalmente, instaurou-se um campo de disputa, mas um marketing que se mostre “da boca para fora” é hoje mais arriscado para a reputação de uma empresa do que manter uma posição neutra em relação ao tema.

Ter e manter uma boa reputação deve ser fundamental e inegociável, mas poucas coisas hoje são tão ao mesmo tempo desejadas e frágeis quanto uma boa reputação. O marketing deve trabalhar com prudência, pois há uma saturação de autopromoções indiscriminadas e recorrência de uso mal-intencionado de propaganda pró-sustentabilidade para passar uma imagem que de fato não se pratica (o “greenwashing”).

 

Avaliação de ESG

Percebe-se uma movimentação dos investidores para encontrar meios de garantir a veracidade do que as empresas alegam e fazer uma espécie de medição, de pontuação de ESG que facilite suas tomadas de decisão. Alguns exemplos são a criação de selos oficiais, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) e o Comitê Brasileiro de Pronunciamento de Sustentabilidade (CBPS). As vantagens são para ambos os lados, pois para as empresas isso permite avaliar o próprio percurso e se diferenciar daquelas que não têm o mesmo comprometimento.

É claro que os índices financeiros continuarão sendo primordiais para os investidores, o que cresce é a procura por uma leitura mais rica da inserção social das empresas. O ESG, tudo que ele cobre com as três “bandeiras” da sigla, conseguiu concatenar o espírito desta época. Não deve, no entanto, ser tratado como um lustre bonito que se quer dar sobre a marca da empresa. Sem seriedade, organicidade, ele não poderá realizar seu potencial para ser um forte indicativo de resiliência – qualidade indispensável em especial para as empresas de capital aberto.

 

Referências:

ESG – Pacto Global

Who Cares Wins 2005 Conference Report: Investing for Long-Term Value

Ambição pelos ODS – Pacto Global

SDG Ambition – Scaling Business Impact for the Decade of Action

As normas GRI

A Short Introduction to the GRI Standards

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Autor: Roberto Roche
Especialista em gestão de ESG (Environmental, Social and Governance), Princípios do Equador, PRI e padrões do IFC para investimentos em infraestrutura.

Ao longo de + 35 anos consolidou sua experiência exercendo vários cargos até alcançar a Vice-presidência em ESG / QSMS-RS & Sustentabilidade Corporativa para fundos de investimentos na África e Asia com forte atuação nas áreas de Óleo & Gás, Energia, Portos e Mineração em mais de 15 países da América Latina, África Ásia e Oriente Médio.

Conselheiro do Conama 2000-2008, Perito Socioambiental do Ministério Público Federal;

  • Pós.doc- (Aberdeen U. – UK);
  • MBA Harvard University USA;
  • PhD (UCLA – USA);
  • MSc (Texas A&M – USA);
  • BSc (Maryland U. – USA); Engenheiro Químico
  • Auditor SGI- ISO 9001 / ISO 45001-BRTÜV, Auditor Líder Ambiental, IEMA / EARE, UK; Auditor Líder ISO 9001-IRCA ; Auditor  Líder ISO 14001-RAB ; Auditor SSASMAQ , Auditor Conama 306, Auditor Líder e Revisor da ISO 45001 final para a OIT , Auditor Líder ISO 26000; Auditor SA 8000 e Auditor AA 1000(relatórios de Sustentabilidade)