Apostas esportivas (bets), inteligência artificial e Banking as a Service (BaaS) foram assuntos de destaque no último ano, levantando debates sobre regulamentação, responsabilidade e inovação no setor. Mas o que esperar desses temas em 2025? Quais novas tendências podem emergir? Para responder a essas perguntas, Adilson Lobato, Diretor da AML Outsourcing e especialista em integridade corporativa com mais de trinta anos de experiência, compartilha sua visão sobre o que continuará a moldar o cenário da conformidade e da prevenção à lavagem de dinheiro, além das habilidades e investimentos essenciais para que profissionais e empresas se posicionem estrategicamente diante desse cenário dinâmico. IPLD: Em 2024, temas como apostas esportivas (bets), inteligência artificial e Banking as a Service (BaaS) ganharam destaque no setor financeiro. Você acredita que essas questões continuarão relevantes em 2025? Quais outros temas podem emergir como prioridade no cenário regulatório e operacional? Adilson: Seguramente as apostas de quota fixas, popularmente chamadas de bets, e o modelo de negócios Banking as a Service (BaaS) continuarão pautados em todos os congressos e mesas de debates onde se encontrarem profissionais de compliance e PLD-FTP em 2025. Embora o tema “bets” já tenha sido adequadamente regulamentado pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, ainda não se tem claro o quanto as empresas recém autorizadas a operar se prepararam para cumprir, especialmente, as obrigações de PLD-FTP. Não raro, nos chegam entendimentos equivocados de que recursos de apostas seriam provenientes de instituições financeiras, que também são pessoas obrigadas, e por esse motivo não precisariam ser monitorados pelas próprias “bets”. Quem tem a mínima experiência em PLD-FTP sabe que não é bem assim. No caso do BaaS, a minuta de regulamentação apresentada pelo Banco Central do Brasil, em consulta pública, diminui substancialmente as sombras que pairavam sobre as responsabilidades de PLD-FTP de prestadores e de tomadores desses serviços. Todavia, os profissionais de compliance e de PLD-FTP ainda terão que envidar relevantes esforços para garantir que as obrigações indelegáveis dos provedores de BaaS tenham a devida contrapartida de auxílio por parte dos tomadores claramente evidenciada nos contratos que formalizam a prestação desses serviços. Isso sem contar com a necessidade de estruturação de um adequado “conheça seu parceiro de BaaS”, afinal essa não é uma modalidade de parceria de baixo risco. Também poderá trazer impacto no cenário regulatório e operacional a autorização para os bancos comerciais, os múltiplos, os de investimento, a Caixa Econômica Federal, as sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e as sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários atuarem na intermediação e custódia de ativos virtuais. Essa mudança exigirá uma relevante adequação do processo de trabalho dos profissionais de PLD-FTP que atuam nessas instituições, até então não ambientados com esse modelo de negócios. IPLD: Diante dessas tendências e desafios emergentes, quais habilidades e competências técnicas e comportamentais você considera indispensáveis para os profissionais de Compliance e PLD-FTP que buscam se destacar no setor em 2025? Adilson: Esses profissionais precisam aperfeiçoar sua capacidade de identificar os riscos que as inovações agregam. Se não estiver claro o que o ameaça, como ela poderá se defender? É imperativo que tais profissionais, após a identificação dos riscos que o assombram, tenham a capacidade de estimar a probabilidade de tais riscos se materializarem e os impactos que essa materialização poderá causar. Também passa a ser muito relevante que os profissionais consigam demandar e gerir modelos assertivos de detecção de atipicidade. Não é mais seguro, para não dizer admissível, que operações complexas, instantâneas e vultosas sejam monitoradas por planilhas eletrônicas ou assemelhados. Para não deixar de falar da vertente comportamental, os profissionais de compliance e de PLD-FTP têm que cuidar de sua capacitação contínua. O que você sabia no ano passado, provavelmente, não será garantia para o seu sucesso neste ano. Uma forma de garantir essa evolução contínua de aprendizagem é obter e colocar como meta a manutenção de uma certificação de conhecimento na área em que se atua. Isso agrega motivação para estar acompanhando todas as alterações regulatórias e novidades surgidas. IPLD: No caso das empresas, quais práticas ou áreas de investimento você considera essenciais para aquelas que desejam não apenas atender às exigências regulatórias, mas também liderar em conformidade e integridade no setor financeiro? Adilson: O segmento financeiro cuida do que é muito valioso para seus clientes, no caso o dinheiro. Assim, o mínimo esperado é que as instituições desse segmento se munam do que há de mais efetivo em termo de gestão e mitigação de riscos. Efetividade, nesse caso, é dispor de processos bem definidos, de informações abundantes e atualizadas, de uma equipe devidamente capacitada e de soluções tecnológicos hábeis a monitorar e mitigar os alertas de riscos inerentes aos seus negócios. Assim, um orçamento bem elaborado deveria prever investimentos suficientes para contratar especialistas que possam ajudar as instituições a manterem seus processos racionalizados; para poder servir-se de um bom bureau de informações; para capacitar e apoiar a especialização de sua equipe técnica e gerencial; bem como para manter seu parque tecnológico atualizado e funcional. IPLD: Considerando tudo o que discutimos, qual a principal mensagem que você gostaria de deixar para os líderes do setor financeiro sobre a importância de PLD-FTP, Compliance e Integridade Corporativa em 2025? Que conselho prático você daria para que eles comecem a se preparar hoje para o futuro? Adilson: Inicialmente, sugeriria que tentassem enxergar PLD-FTP, compliance e integridade corporativa como investimento e não como despesa. Se essa virada de mindset ocorrer, seguramente a probabilidade do enfrentamento de crises futuras será bastante diminuída. Nas reuniões estratégicas, tais líderes poderiam encorajar os responsáveis pelas áreas de PLD-FTP, compliance e integridade a relatar o que poderiam fazer melhor se tivessem um incremento de recursos para investir. Provavelmente vão ser relatadas situações de extrema gravidade que estão sendo negligenciadas pela falta de recursos diversos. Complementarmente, sugeriria que o time do primeiro escalão incluísse em suas rotinas a emissão de mensagens de valorização da integridade e da cultura ética. O tom do topo tem poder ímpar de influenciar a cultura e de encorajar e potencializar boas iniciativas em todas as áreas. [inserir banner CSA meio de artigo] Ao longo desta segunda parte da entrevista, ficou evidente que o futuro do Compliance e da PLD-FTP no setor financeiro será fortemente influenciado pela consolidação da regulamentação de apostas esportivas, pelo avanço do Banking as a Service e pela crescente digitalização dos serviços financeiros, incluindo a intermediação de ativos virtuais. Além disso, a necessidade de aprimoramento na detecção de riscos e no uso de tecnologia para monitoramento de transações será cada vez mais determinante para a efetividade dos programas de integridade. Como destacou Adilson Lobato, encarar PLD-FTP e Compliance como um investimento – e não como um custo – pode ser o fator decisivo para garantir segurança, credibilidade e sustentabilidade no setor financeiro nos próximos anos.