08/12/2022

02: O último ano de faculdade e o começo da carreira

08/12/2022

GREVE, CURSOS E NETWORKING…

Após temporada em Delaware, voltei para casa e lá estava o jovem Edgard em pleno 4º semestre de 2015: aprovado no exame da ordem, TCC apresentado e aprovado em todas as matérias. Restava somente pegar o diploma e me jogar nos braços do mercado de trabalho. Foi então que tudo desabou. A UEL entrou em greve.

“Greve estudantil. Greve dos professores. Greve por tempo indeterminado.” Essas eram as manchetes dos jornais de Londrina.

Eu só pensava: “tão perto, mas tão longe.”

Foi difícil. Muitos amigos voltando para as casas de seus pais e muita gente perdendo a esperança de se formar. Minha mãe, coitada, já estava contando os dias para a formatura e já tinha escolhido o vestido que usaria para dançar a valsa com o formando… E dá-lhe greve!

A minha jogada foi pensar em como eu poderia transformar esse período de greve em algo positivo. Não adiantava ficar bravo com os grevistas, pois eles tinham suas pautas e seus propósitos. Não caberia a mim julgar se estavam certos ou errados. De qualquer forma, o fato era que a UEL estava em greve e, enquanto ela perdurasse, eu precisaria fazer algo por mim. Eu tive que tomar as rédeas e aproveitar que eu não estava tendo aula para tentar incrementar minha carreira, pois uma certeza eu tinha: um dia a greve iria acabar e eu não gostaria de ser o cara que ficou parado, esperando esse dia chegar.

Foi então que resolvi procurar cursos para dar uma boa incrementada no currículo.  Encontrei um curso de compliance em São Paulo. Fiquei viajando para São Paulo uma vez por mês, entre agosto de 2015 a fevereiro de 2016, enquanto a greve ia e voltava.

Lembro que, no primeiro dia de curso, teve aquele momento em que o professor pedia para que cada aluno se apresentasse, dizendo nome, cidade e onde trabalha. Mais de 50 alunos no curso. Só dava “diretor daquilo”, “sócia de firma” etc. Só magnata! E eu lá: estudante de direito aguardando a greve terminar. Não perdi tempo e comecei a fazer contato com um monte de gente importante. Gente da caneta! Enxerguei nos colegas a chance de poder trabalhar com um tema inovador.

O resultado desse curso foi o seguinte: antes de a greve acabar e eu me formar, eu já estava com mais de cinco propostas de emprego em diversos lugares. Três em São Paulo-SP (oferecidas por professores do curso), uma em Curitiba-PR (indicado por um colega de curso) e outra em Cuiabá.

De todas as propostas, a que era mais desafiadora era a proposta de Curitiba. Eu iria ser o responsável por criar a área de compliance corporativo e direito penal econômico em um escritório. Minha então futura esposa também conseguiu um emprego por lá. Então estava definido. Iríamos nos mudar para Curitiba e iniciar nossa jornada a dois. Só que ainda tinha um pequeno problema. A greve.

O escritório de Curitiba queria que eu já começasse a trabalhar, mas eu ainda não tinha diploma e, muito menos, a carteira da OAB (apesar de já estar aprovado no exame). Me mudei para Curitiba e comecei a trabalhar como paralegal, enquanto o diploma não chegava.

Mas quando é para dar certo, parece que o universo conspira ao nosso favor.

Apesar de a greve docente permanecer, os servidores administrativos voltaram aos seus postos. Então eu e mais três colegas – que também tinham propostas de emprego – entramos com procedimentos administrativos para que, com base nessas propostas, conseguíssemos colar grau de forma antecipada, no gabinete da reitoria. Xeque-Mate!

Com o atestado de conclusão de curso na mão, consegui fazer o juramento perante a OAB, no mês de maio de 2016.

 

O IPLD apareceu na minha vida

Vida nova em Curitiba. Vida a dois. Tempo de adaptação. Nada fácil. Mas foi preciso. Precisei trabalhar muito para conseguir os primeiros clientes. A vida de advogado é punk, mas é gostosa. Adrenalina pura. Pelo menos essa é a minha percepção, ainda hoje.

Naquele começo de carreira eu não consegui um único cliente na área de compliance. Nada. Tudo o que aparecia eram casos criminais no escritório. Tudo colarinho branco. Corrupção, fraudes tributárias, crimes eleitorais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, enfim, o comum do direito penal econômico. Eu confesso que não me sentia confortável atuando nesses casos, mas eu sempre tive em mente um único pensamento: eu preciso dessa atuação criminal para que eu possa, no futuro, atuar com prevenção. Eu precisava criar “casca.” E assim eu continuei. Consegui entender como os esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro funcionavam. Consegui entender como o crime se organizava.

Foi essa experiência que, tempos depois, me permitiria construir os programas de integridade e programas de PLD-FTP que fossem efetivos para os meus clientes.

Ainda no ano de 2016, eu e o meu amigo (que conheci no curso de compliance), decidimos montar nosso próprio escritório. Fizemos isso. A atuação litigiosa pagava as contas, mas eu ainda tinha um objetivo: trabalhar exclusivamente com compliance e PLD-FTP.

E eu persisti. Enquanto vendia o almoço para comprar a janta, aprendendo com os erros e tentando repetir os acertos, a meta não mudava. Da minha boca só saiam as palavras compliance e PLD-FTP. Contratei pessoas, tive mais sócios, rompi com outros sócios, passei noites em claro pensando em como faria para pagar as contas enquanto não conseguia realizar meu sonho de trabalhar uma advocacia de forma preventiva.

Foi então que, em novembro de 2017, eu conheci o IPLD (Instituto de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento ao Terrorismo).

Eu estava em um ritmo frenético no escritório, fazendo o impossível para poder pagar as contas. Eis que um dia eu estava com minha senhora e mostrei para ela uma notícia sobre o lançamento de um instituto focado em Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo.

Não hesitei em entrar em contato com os fundadores do Instituto e me oferecer para auxiliar o IPLD no que fosse necessário.

Como o Instituto estava bem no seu começo, eu passei a auxiliar a diretoria em toda a parte burocrática, trâmites cartorários, atas de eleição e tudo mais.  Comecei a construir uma nova rede de amigos e parceiros por meio do IPLD e isso abriu muitas portas na minha vida profissional.

 




Autor: Edgard Rocha

Vice-presidente do IPLD. Advogado graduado em Direito pela Uni versidade Estadual de Londrina (UEL) com intercâmbio em American Law pela University of Delaware-EUA. Mestrando em Direito Penal Econômico pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).