Futuro ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro, Sergio Moro quer contar com o sistema financeiro para uma atuação mais efetiva na prevenção à lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O objetivo é enfraquecer a capacidade de financiamento do crime organizado. O Valor apurou que a proposta é deixar claro aos agentes financeiros que não existirá caça às bruxas, mas, sim, o estabelecimento de diálogo com os principais bancos privados para definir políticas conjuntas de prevenção a delitos de natureza econômico-financeira. O relacionamento com o mercado financeiro ficará sob responsabilidade do auditor da Receita Federal Roberto Leonel de Oliveira Lima, que assumirá o Coaf, órgão de inteligência que, a partir de janeiro, será transferido do Ministério da Fazenda para a pasta da Justiça. Lima já se afastou da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba. Especializado na análise de dados revelados a partir da quebra de sigilo, para rastrear dinheiro usado no custeio da corrupção e do tráfico de drogas, o auditor conhece Moro desde o fim da década de 1990, quando trabalhou com o então juiz federal como um dos integrantes da força-tarefa que atuou no caso Banestado, um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro da história do país.Na época, o trabalho de Lima era rastrear o uso ilícito das contas CC-5, criadas pelo Banco Central para permitir que não residentes enviassem dólares ao exterior. As contas abertas no Banestado foram usadas para remeter ilegalmente cerca de US$ 30 bilhões, entre 1996 e 2002, de acordo com o Ministério Público Federal. A aproximação com os bancos é uma decorrência do projeto de Moro para aumentar a estrutura do Coaf. Há planos de criação de carreiras específicas para o órgão, que hoje opera com servidores cedidos por outras áreas do governo. Ainda que o desempenho do Coaf seja considerado bom, o foco é dar agilidade à identificação de operações suspeitas.