Modernização e medidas de compliance na área do câmbio. Apesar de todas as dificuldades inerentes às multifunções das mulheres, Kelly Cristina Gallego Massaro é uma orgulhosa mãe de uma menina e conseguiu conciliar sua criação com uma carreira profissional que a elevou ao cargo de presidente da respeitável Associação Brasileira de Câmbio (Abracam). A Associação tem tido um papel importante na aceleração do processo de conformidade desse setor com as exigências de PLD/FTP. Kelly Massaro é também a atual presidente da Comissão Financeira do Mercosul (Ciasefim) e tem trabalhado para o avanço das políticas institucionais de compliance entre as partes envolvidas. A Abracam é uma associação comprometida com a PLD/FTP. Para ser membro, é preciso estar em conformidade com as melhores práticas mundiais na matéria. O que ainda poderíamos melhorar na PLD/FTP no contexto do mercado de câmbio especificamente? A Abracam possui um compromisso permanente com a atualização das melhores práticas preventivas no segmento cambial, tendo em vista que sempre é possível aprimorar os controles. Esse investimento é de extrema importância para a sociedade civil, pois o ambiente dos crimes financeiros recebe constantes e massivos aportes dos interessados em prejudicar o sistema financeiro para obtenção de ganhos indevidos. Considero que o ponto central para melhoria é o aculturamento da importância do tema. Por meio da conscientização podemos prevenir algumas das práticas nocivas que assolam o mercado. Pensando ainda na PLD/FTP, quais as novidades trazidas pelo Novo Marco Cambial? O marco cambial traz inovações no posicionamento internacional do Brasil, tornando o ambiente interno mais atrativo para o investidor estrangeiro. Quando entrar em vigor, veremos ganho de eficiência no âmbito de pagamentos de importação e maior liberdade na alocação e captação de recursos de exportadores. O tratamento mais isonômico conferido ao capital estrangeiro também tem grande potencial de inovação na gama de serviços das instituições brasileiras, assim como a desburocratização dos contratos de câmbio, a qual permitirá maior celeridade e redução de custos no fechamento de operações. Aproveitando de sua experiência como presidente da Ciasefim, como está o caminhar da PLD/FTP no Mercosul enquanto um bloco? O Mercosul também tem evoluído na adoção das melhores práticas de PLD/FTP e é necessário enaltecer a posição de liderança que o Brasil conquistou no bloco. A adoção de novas tecnologias tem contribuído para o mapeamento de fragilidades e adoção de medidas corretivas no escopo macro. Também gostaria de fazer menção ao GAFILAT que contribui ativamente na produção de material de qualidade para coordenação das ações internacionais. Sobretudo os últimos anos foram excelentes, pois pudemos partilhar com os outros países do bloco todas as evoluções que o Brasil tem vivido: Pix, Open banking, Selo de Conformidade, Certificação voluntária, entre outras. Ser mulher, mãe, profissional e se esforçar para dar em tudo o melhor de si é uma história amplamente compartilhada. Quais dificuldades você enfrentou que espera que não existam mais para as mulheres de amanhã? Verdade, minha história coincide com a da maioria das mulheres que precisam se desdobrar para dar conta da jornada quádrupla de ser mãe, esposa, profissional e cuidar da casa – sem falar no autocuidado. Ainda muito jovem e solteira, iniciei o trabalho na Abracam sem qualquer experiência prévia no mercado financeiro. Todo o aprendizado foi sendo adquirido durante os mais de 21 anos dedicados à Associação, onde fui galgando os postos de Superintendente, Diretora, até chegar, ao final de 2018, à posição de Presidente-Executiva. Foram anos difíceis tendo que conciliar todas as responsabilidades pessoais e profissionais e os estudos para a qualificação de minhas habilidades técnicas e gerenciais. Felizmente os frutos chegaram com a conquista de um espaço relevante em um mercado que só recentemente começou a ter uma participação feminina significativa, principalmente quando se fala de gestão e direção. Espero que seja mais um indício de que para as futuras gerações de mulheres esse tipo de desafio será mais brando. De qualquer forma, todos os dias quando saio de casa olho para minha filha Nicole e tenho certeza de que tudo valeu a pena. É uma sensação de dever cumprido ao vê-la se tornar uma adolescente que tem um caráter admirável, um senso de justiça louvável e ainda por cima se orgulha dessa minha louca jornada de ser mulher intensamente em tudo que me proponho a fazer. Bem, é verdade, ela é a cara do pai, mas é também a miniatura do meu perfil! (risos) Quais são seus maiores orgulhos nessa trajetória? Tenho muito orgulho das expressivas conquistas obtidas pelo segmento que represento através da Abracam, o mercado de câmbio. Algumas dessas conquistas foram a criação de um programa de certificação profissional de primeira linha, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas; o estabelecimento de Políticas Institucionais a serem observadas pelos associados; a realização de um evento anual de grande magnitude, o Compliance & Business Day; a criação da Comissão de Ética independente; a abertura da Associação, que originalmente congregava apenas sociedades corretoras de câmbio, e que hoje permite acolher todos os agentes participantes desse mercado; a implantação de estrutura profissional qualificada e independente e criação de Conselho de Administração; o estreitamento das relações de cooperação técnica com órgãos reguladores e fiscalizadores e, por fim, a criação do Selo de Conformidade em PLD/FTP-FT e Câmbio para as instituições autorizadas a operar nesse mercado. Esse Selo vem sendo considerado, tanto pelas principais instituições do mercado de câmbio, quanto pelo regulador, como um divisor de águas que vem permitindo não só que as instituições sérias possam operar com maior segurança e confiança em relação aos riscos assumidos, mas também a eliminação gradual de uma minoria resistente que, ao apostar no alto risco, cria sérias distorções e assimetrias para o mercado e clientes. É um processo que tem sido implantado de forma gradual e responsável e que deverá alcançar, já ao final do seu segundo ciclo, cerca de 80% do volume de operações cursadas no mercado primário de câmbio. Uma ação calcada na autorregulamentação que vem sendo consolidada com base em um compromisso das próprias instituições certificadas de só operarem com outros agentes que também tenham obtido o Selo, formando assim um círculo altamente virtuoso. Você poderia falar um pouco sobre o processo de auditoria para conferência do selo ABRACAM? O que é avaliado? A auditoria é feita por uma empresa independente de renome internacional, a Ernst Young, e segue o roteiro de requisitos previstos no Regulamento editado pela Abracam, o qual é periodicamente revisto e atualizado. Basicamente consiste em aferir, em detalhes, se as principais exigências normativas do Regulador estão sendo, efetiva e adequadamente, observadas pela instituição ou correspondente cambial. Não poderia finalizar sem externar a minha honra em fazer parte de um quadro tão bacana como este, em um grupo tão seleto composto pelas entrevistadas antecessoras Andréa Laís, Juliana Mozachi, Rochelle Pastana, Anamara Osório e Silvia Amélia, mulheres que sempre tive como referência de profissionalismo e garra. Meu agradecimento especial a mais uma grande mulher, idealizadora dessa ação, Sandra Buck. Referências: IMTC: Kelly Cristina Gallego Massaro Diálogos do Mercado Financeiro e de Capitais, Kelly Massaro, da ABRACAM Autor: Da Redação.