18/06/2019 atualizado em : 18/06/2019

Série: O terrorismo e seu financiamento: 03 – O financiamento do terrorismo e a lavagem de dinheiro

18/06/2019 atualizado em : 18/06/2019

Duas armas

Existem pontos em comum entre o financiamento do terrorismo e a lavagem de dinheiro. Em primeiro lugar, ambas são consideradas atividades ilegais na grande maioria dos países e ambas se utilizam do sistema financeiro de maneira ilegal. Em segundo lugar, as duas práticas se relacionam com a movimentação de bens e recursos financeiros. Em terceiro lugar, ambas podem utilizar técnicas semelhantes. Desta forma, as estratégias de combate e prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo têm fortes convergências e devem ser implementadas e aplicadas conjuntamente. No entanto, é importante entender que as duas práticas possuem importantes diferenças e particularidades. Inicialmente, enquanto a motivação da lavagem de dinheiro é o lucro, este não é necessariamente o caso do financiamento do terrorismo. Assim, enquanto o crime organizado utiliza a lavagem de dinheiro para reintegrar seu dinheiro ilícito no sistema econômico, os grupos terroristas o fazem para financiar suas atividades radicais. Outra importante diferença diz respeito ao volume da atividade financeira. Embora alguns grupos terroristas tenham uma grande estrutura organizacional e precisem de muitos recursos para mantê-la, o financiamento do terrorismo tende a operar através de um alto volume de transações de baixo valor. Adicionalmente, a origem dos fundos também difere. Enquanto a lavagem de dinheiro é sempre proveniente de fundos ilícitos, o financiamento do terrorismo frequentemente também utiliza de fundos oriundos de fontes lícitas. Consequentemente, ao contrário da lavagem de dinheiro, a preocupação fundamental do financiamento do terrorismo não é esconder a origem dos recursos, mas sim ocultar o seu destino.

O maior desafio no combate ao financiamento do terrorismo é que, dada a natureza clandestina de suas atividades, estes grupos se esforçam para adquirir recursos de maneira oculta e esconder seus bens, trilha financeira e finalidade das autoridades. Indivíduos, grupos e redes terroristas são extremamente criativos e altamente adaptáveis e dinâmicos no que diz respeito à suas finanças. Por isso, é tão importante que as instituições financeiras, os profissionais da área e as agências governamentais atuem em parceria e mantenham-se sempre atentos e atualizados às nuanças do financiamento do terrorismo.


Autor: Jorge Lasmar
Doutor pela London School of Economics, LSE, Inglaterra, e autor das obras “Passaporte para o terror: Os voluntáriosdo estado Inslâmico” e “Perspectivas do terrorismo transnacional contemporâneo”.